PLANTAS PARA AQUÁRIO

 

Tendo que dar as seus habitantes condições o mais parecidas possível com o seu meio natural, o aquário tem que ser bem plantado, bem iluminado, e mantido em boas condições de higiene. Para ter um ambiente sempre límpido e bem oxigenado, necessitamos de plantas em bom crescimento, para que possam exercer a sua função clorofiliana, isto é, a absorção do gás carbônico e outras impurezas, formadas na água pelo metabolismo dos peixes. Um aquário com excesso de peixes está sobrecarregado de gás carbônico, que só muito lentamente se evapora na atmosfera. Para acelerarmos o seu desaparecimento é que temos plantas no aquário, em virtude de elas, durante o dia, se nutrirem do gás carbônico que absorvem, devolvendo-o transformado em oxigênio. A importância das plantas como oxigenadoras é relativa, pois só em casos raríssimos não se acha o oxigênio dissolvido na água em quantidade suficiente. Quando nós vemos os peixes congregados na superfície da água, aspirando o ar em grandes goladas, não é falta de oxigênio que estão sentindo, mas sim sinal de que a água está sobrecarregada do gás carbônico que os intoxica.

O processo de absorção do gás carbônico pelas plantas relaciona-se com a fotossíntese e só pode ser obtido satisfatoriamente com boa quantidade de luz incidindo sobre as plantas. Se o aquário estiver perto de uma janela bem iluminada pela manhã, onde os raios de sol não incidam diretamente sobre ele, teremos resolvido satisfatoriamente o problema.

Naturalmente, já que o aquário é tido hoje como parte da decoração do ambiente caseiro, tendo ainda a vantagem de poder graduar a maior ou menor quantidade de luz, segundo o número de "watts" da lâmpada que estivermos usando. Para um viveiro de uns trinta a quarenta centímetros, uma lâmpada de quinze "watts" ligada umas seis a oito horas diárias, é suficiente. Podemos calcular a quantidade de luz que necessitamos observando as plantas. Se elas se apresentam amareladas, com pouco crescimento, e a água tem tendência para escurecer, o aquário não está recebendo iluminação suficiente e estamos favorecendo o aparecimento de algas marrons grandes consumidoras de oxigênio e responsáveis pelo mau aspecto geral do viveiro. Se as plantas se apresentam cobertas de algas verdes e a água toma um aspecto verdoso, é sinal de que o aquário está recebendo luz em demasia. Um viveiro com a iluminação certa tem um aspecto geral agradável, água límpida e inodora e as plantas viçosas com brotos e folhas novas, de um belo verde-claro.

As plantas mais geralmente usadas nos aquários, dividem-se em dois tipos: as flutuantes e as submersas. A função das plantas submersas é, alem da já descrita acima, fornecer abrigo para os peixes mais tímidos e embelezar a aparência do viveiro. As flutuantes servem de esconderijo aos filhotes, especialmente às crias dos vivíparos, alem de servir de filtro para a luz projetada pelas lâmpadas. Têm o inconveniente de se multiplicar muito rapidamente e as suas raizes não têm bonito aspecto penduradas na água. Muitos aquariófilos não as usam em seus aquários, preferindo utilizá-las apenas nos tanques de criação ao ar livre.

As plantas, antes de colocadas no aquário, devem ser bem limpas e desinfetadas num banho débil de permanganato de potássio, a fim de impedir que tragam alguma doença para os peixes. Antes de plantá-las, todas as folhas amareladas devem ser cortadas, assim como as pontas das raizes. Não devemos enterrar demais as plantas na areia, pois isso as sufocaria, impedindo o seu normal desenvolvimento.

Como plantas submersas mais comuns, temos:

VALISNÉRIA - Vallisneria spiralis. Originária da América do Norte, e a mais vista entre nós. Parecida com um capim, dá-se bem em aquários moderadamente iluminados. Tem um palmo de altura e a sua propagação faz-se, principalmente por meio de brotos rampantes. As suas folhas, verde claras, acetinadas, crescem ondulantes e dão uma extraordinária graça ao aquário. Conhecemos dois tipos, além do já descrito: a Vallisneria torta, cujas folhas crescem em saca-rolhas, e a Vallisneria gigantea, que dá folhas de um metro ou mais de comprimento, se tiver espaço para isso. Estas plantas dão umas florezinhas brancas, mas como são só os pés fêmeas que florescem e os pés machos são raríssimos, não é fácil obter sementes, e podemos dizer que a planta se propaga exclusivamente por meio de brotos. Os filhotes de um mesmo pé são todos do sexo da planta que os originou.

SAGITÁRIA - Sagitaria natans. Planta muito parecida, quando nova, com a anterior, mas de folhas mais robustas e atarracadas. Dá folhas aéreas, parecidas com uma ponta de lança, e dai o seu nome (de Sagitário, o arqueiro mitológico). As suas raízes são reputadas como grandes higienizadoras do meio de cultivo do aquário e a planta, em si, é uma boa oxigenadora. Infelizmente não é muito comum entre nós e não se dá muito bem em interiores. Gosta de água limpa, velha e bem iluminada. Não devemos ter, no mesmo viveiro, Sagitárias e Valisnérias, pois as duas plantas não se dão bem e em breve veríamos uma delas definhar e morrer. A sua reprodução se faz como a Valisnéria, se bem que as flores aéreas dêem umas sementinhas a quem, até agora, aparentemente, ninguém testou a fertilidade e o poder de germinação.

CABOMBA - Cabomba carolineana. Uma bela planta, verde-clara, muito em uso, e reputada como boa oxigenadora. O seu caule, longo, tem folhas em forma de leque, dispostas em pares, a intervalos regulares. Cresce bem, mas exige muita luz ou então definha e estiola facilmente. No aquário, fica bonita plantada em tufos e cresce rapidamente, tão rapidamente que, com boa iluminação, em breve cobrirá toda a superfície. Dá folhas e flores flutuantes parecidas com pequenos nenúfares. É semelhante à Ambulia sessiliflora, também chamada Limnophila, mas esta tem as folhas dispostas, em número de cinco, a volta do caule. As duas pegam por pequenos pedaços, cortados e enfiados na areia.

ELODEA - Elodea canadensis. Levada da América para a Irlanda em 1836, esta planta se adaptou tão bem, tão rapidamente se alastrou por toda a Europa, que logo ganhou o apelido de "peste de água". No aquário, é de um lindo efeito, com seu formato cilíndrico, parecendo enfeite de árvore de Natal. De cor verde-claro aveludado, necessita de muita luz e não gosta de temperatura muito elevada. Tem tendência exagerada para definhar por falta de boa iluminação. Vê-se melhor em tufos e geralmente, as casas especializadas já a vendem em molhinhos, prontos a ser plantados. Basta cortar-lhe um pedaço do caule e enterrar-lhe uma das pontas na areia, para que logo cresça uma nova planta. É, de resto, o seu único modo de reprodução conhecido entre nós, pois, se bem que dê flor, parece que todos os pés importados foram fêmeas.

CRIPTOCORINA - Cryptocorine sp. Existem, entre nós, muitas variedades desta planta, todas importadas da Ásia. Gostam de pouca luz e prosperam bem em água ligeiramente ácida. É a planta ideal para aquários onde se queira fazer a criação de Rasboras, já que este peixe, além de gostar de suas folhas para desovar também prefere água ácida. São plantas de vida longa e têm se adaptado bem em aquários A principal diferença entre espécies desta planta esta no formato das folhas, não sendo raro encontrar dois e até três tipos num mesmo pé, talvez devido a hibridações experimentais. Dão belas flores submersas, brancas ou rosadas, parecidas com "copos de leite".

NITELA - Nitella gracilis. Não é propriamente uma planta, mas sim uma alga. É utilíssima em aquários de cria para vivíparos oferecendo ótimo abrigo para os filhotes. Gosta muito de luz e o seu crescimento é rápido com iluminação apropriada. Não tem raizes e a sua multiplicação se faz por pedaços que, quebrados, imediatamente crescem formando um emaranhado de belos tubinhos, por onde podemos observar o fluir do protoplasma.

SAMAMBAIA DE ÁGUA - Ceratopteris thalictroides. O seu aspecto é de uma rama de cenoura, sendo suas folhas de um belo verde-claro. Quando atinge a superfície, a planta reproduz-se por viviparidade, já que das suas folhas começam a despontar brotos que dão novas plantas, flutuantes, desta vez. Os Anabantídeos notadamente os Bettas, Colisas e Macropodus, gostam de fazer seus ninhos debaixo destas folhas flutuantes. Na sua forma flutuante, esta planta, gosta de luz e umidade, sendo ótima como filtro de luz em tanques de criação.

AMAZONENSE - Echinodorus amazonensis. Originária da Amazônia, é a planta mais procurada para aquários grandes, dada a majestade de seu porte. Vinte a trinta folhas de bom tamanho, geralmente de cor verde-clara, são realmente uma bela decoração para um ambiente aquático. Deve ser plantada longe de outras espécies, pois as suas fortes raizes cedo tirariam o alimento de suas vizinhas. Reproduz-se por brotos rampantes e dá inflorescências aéreas de onde podemos aproveitar as sementes. Além destas, existem as espécies E. leopoldina, E. intermedius, E. rangeri e E. tenellus, comuns entre nós.

LUDUÍGUIA - Ludwigia palustris. É, realmente, uma planta terrestre, ou melhor, palustre, adaptada a vida aquática. De resto, nunca perdeu o habito de projetar os seus caules fora de água Cresce bem em luz moderada bastando cortar um broto e enterrá-lo no fundo, para que cresça e se transforme rapidamente numa nova planta.

Como plantas flutuantes, dispomos de:

LENTILHA DE ÁGUA - Lemna minor. Comuníssima, é usada mais como filtro de luz nos tanques de criação, do que como decoradora de aquários. São duas ou três pequeninas folhas, ovaladas, com uma só raiz, que, recebendo bastante luz, em breve cobrem totalmente a superfície da água. É difícil nos livrarmos dela quando não necessária, pois basta deixar uma 80 folhas no tanque, para que em breve ele esteja coberto outra vez. Seca, é ótima para criação de infusórios, como mais tarde explicaremos.

SALVÍNIA- Salvinia sp. Brasileiríssima, de rápida multiplicação, tem a mesma finalidade da planta descrita anteriormente. As suas folhas são peludas e as suas raízes mais fortes e maiores. Dá em grupos de dez a doze folhas.

RIQUIA - Riccia fluitans. A melhor de todas as flutuantes e a única que se dá verdadeiramente bem em aquário. Realmente, parece que se dá melhor em aquário que em tanques ao ar livre. Cresce em formações aparentando cristais. Gosta de luz moderada, pois um excesso cobre-a de algas verdes que a impedem de respirar, "afogando-a". Pode ser usada como filtro de luz, devendo-se desbastá-la de vez em quando dado o seu crescimento muito rápido. Os filhotes dos vivíparos têm, nesta planta, um ótimo jardim de infância, pois, além de encontrarem microorganismos que lhes servem de alimento, encontram também um bom abrigo à voracidade dos pais.

CHIGOGA - Eichornia crassipes. É uma planta ótima para tanques de criação. As suas raízes abundantes são uma fonte rica em microorganismos para a alimentação dos filhotes. É a planta indicada para a desova e criação de peixes dourados Carassius auratus. Alguns autores recomendam apanhar a planta dos tanques ao ar livre e introduzi-la nos aquários de criação, para que os alevinos se alimentem com as abundantes quantidades de infusórios que vêm nas suas raizes. Cresce e reproduz-se tão rapidamente que, em alguns lugares da Amazônia, de onde é originária, impede a navegação. Dá umas flores muito bonitas mas, infelizmente, de vida bem curta: vinte e quatro horas apenas!

Não faltarão, ao aquariófilo amador, oportunidades para recolher espécies novas de plantas, pelos córregos e charcos do interior de nosso país. A sua experiência em breve lhe dirá quais as boas e quais as que não servem para conservar em seus tanques.