Nutrientes, o segredo do Jardim Aquático

Este artigo visa, antes de explicar processos químicos e biológicos realizados pelas plantas aquáticas, esclarecer um pouco as dúvidas de muitas pessoas a respeito da necessidade de certos nutrientes no aquário para um saudável desenvolvimento das plantas. Vale ressaltar que nenhuma das informações aqui contidas deve ser tomada como ‘’a verdade absoluta’’, porém tudo o que é apresentado aqui tem alguma fundamentação química, física ou biológica.

Vamos a uma pequena introdução:

As plantas aquáticas só podem absorver os nutrientes sob a forma iônica, com exceção do dióxido de carbono. Os íons são formados a partir da quebra de ligações eletrônicas que unem as partículas.    

Antes de começar a falar sobre os principais nutrientes, é preciso lembrar da Lei de Liebig (Lei dos Mínimos), que basicamente diz que de nada adianta manter em níveis aceitáveis a condição dos nutrientes se apenas um deles não está presente em quantidade suficiente. Em outras palavras: na falta de um, os outros não servem para nada.

Dióxido de Carbono (CO2)

De todos os nutrientes, eu diria sem medo de estar sendo pedante, o gás carbônico é o mais importante para as plantas. A explicação disso é simples: esse gás é a fonte primária de carbono na síntese da glicose, que acontece na fotossíntese. O carbono é utilizado na produção de carboidratos, que têm como função liberar a energia química utilizada no metabolismo das células e do organismo em geral.

Certamente a concentração de gás carbônico na atmosfera (0,03%) é um fator limitante para o crescimento vegetal (aplicação simples da Lei de Liebig).

Em ambientes aquáticos a quantidade de gás carbônico é maior do que na atmosfera devido à retenção do gás carbônico liberado pela respiração dos seres vivos. É sabido por todos que o verdadeiro ‘’pulmão do mundo’’ nunca foi a floresta Amazônica e sim os mares, rios e lagos, que são responsáveis por 90% de todo o oxigênio lançado na atmosfera. Toda essa atividade fotossintetizante deve-se à maior concentração de CO2 nesses locais.

Ao contrário das plantas terrestres, onde a absorção de CO2 é feita através de estruturas especializadas, os estômatos, nas plantas aquáticas a absorção do gás é feita por difusão, por toda a superfície da planta. Por isso sua absorção é muito mais eficiente.

Quando a quantidade de CO2 não é suficiente, as plantas de rápido crescimento são as mais prejudicadas. Primeiro ficam com as folhas amareladas que, posteriormente, caem.

Além de ser um nutriente fundamental, o dióxido de carbono tem a função de manter a reserva alcalina. Quando sua concentração é baixa, algumas plantas passam a obtê-lo dos bicarbonatos presentes na água, o que causa um aumento no pH devido à dissociação química que gera, além de gás carbônico, ânions OH-. Esse fenômeno é chamado Descalcificação Biogênica. É certo que isso não ocorre em aquários com poucas plantas, onde normalmente a concentração de CO2 presente já é suficiente.

O aumento do pH provocado pela descalcificação biogênica é o indicador mais simples de que as plantas precisam de mais CO2. Essa demanda de gás carbônico pode ser facilmente suprida através da injeção do gás pelos métodos já conhecidos. Mas é importante que o gás seja dissolvido na água para o seu melhor aproveitamento. Para isso, basta que se use um reator simples que em momento oportuno eu esquematizarei aqui nesta página.

Nitratos e Fosfatos

Esses são os nutrientes básicos dentro de um aquário. Nitratos (NO3) fornecem grande parte do nitrogênio utilizado pelas plantas na síntese de moléculas de proteínas. Já os fosfatos (PO4) são utilizados em pequenas quantidades nos processos que exigem transferência de energia.

Apesar de sua importância, a preocupação do aquarista em relação a esses nutrientes está no controle para que seus níveis não estejam em excesso. A quantidade de nitratos e fosfatos em qualquer aquário onde estejam pelo menos alguns peixes é mais do que o necessário para o desenvolvimento de qualquer planta. A bem da verdade, esses nutrientes devem ser exportados do aquário freqüentemente através das trocas de água. Níveis de nitratos acima de 20 mg/l e de fosfato acima de 5 mg/l são um convite à uma explosão de algas.

Micronutrientes

São os nutrientes necessários em concentrações muito pequenas na água do aquário. Embora sua quantidade seja pequena, sua importância é enorme, são imprescindíveis para o desenvolvimento das plantas. Exemplos são: ferro (que será aprofundado adiante), manganês, cobre, molibdênio, zinco, boro, cobalto, alumínio, titânio, entre vários outros.

No aquário, a ação das bactérias sobre os dejetos, os restos de alimento, etc, é suficiente para suprir a necessidade de micronutrientes. Porém, o ferro e o manganês ficam fora disso. O primeiro deve ser adicionado externamente e o segundo é oxidado muito rapidamente passando para a forma insolúvel em pouco tempo. Para suprir sua necessidade, esses dois devem ser adicionados regularmente através de fertilizantes líquidos específicos.    

É preciso lembrar que, apesar de todos sabermos disso, o excesso de fertilização é tão prejudicial quanto à escassez. Grande parte dos micronutrientes é tóxica em determinadas quantidades, tanto para peixes quanto para plantas.

Flourish

Flourish - Seachem

Ferro

O ferro é talvez o micronutriente mais importante no aquário. Tem papel fundamental na fotossíntese. Porém só pode ser absorvido sob a forma de íon ferroso (Fe2+). Em contato com a água, o íon ferroso oxida passando para íon férrico (Fe3+) que também pode ser absorvido pelas plantas, mas precipita quase que instantaneamente sob a forma de óxido de ferro, a nossa velha e conhecida ferrugem, que não serve para nada no aquário.

Uma forma pela qual o íon ferroso permanece sob essa forma na água é através da ação de ácidos orgânicos queladores que impedem a oxidação do íon Fe2+. Porém a concentração desses ácidos é, na maioria dos aquários, insuficiente. Troncos, turfa, e materiais semelhantes aumentam a concentração de ácidos orgânicos na água, porém ainda assim sua quantidade não é bastante. A explicação é simples: esses ácidos possuem maior afinidade por outros íons, que são mais reativo que o ferro. Íons como o cálcio, o magnésio, o potássio e o manganês são fixados muito antes do ferro. Por isso, a quantidade insuficiente de ácidos orgânicos tem pouca chance de quelar o íon ferroso antes que este oxide.    

Problemas com a absorção de ferro podem, portanto estar relacionados à carência do íon ferroso, à falta de ácidos orgânicos ou ainda ao excesso de outros minerais.    

Para driblar esse problema de fixação de Fe2+, utiliza-se o ácido etilendiaminatetracético (conhecido como EDTA) que é um excelente quelador adicionado aos fertilizantes.

Flourish Iron

Flourish Iron - Seachem

Plantamin

PlantaMin - Tetra

Bem, chegando ao fim, acredito que essa breve explicação sobre os nutrientes presentes no aquário tenha sido útil para acrescentar um pouco mais de embasamento científico sobre as necessidades das plantas de aquário.

Obs.: As marcas usadas como ilustração deste artigo são só um exemplo perto da enorme variedade de produtos de qualidade que poderão ser encontrados no mercado.