Tratamento de Troncos para Aquário

 

Introdução

Ao desenvolver um interesse pelo aquarismo, muitos iniciantes buscam o máximo de informações possíveis, momento no qual adquirem algumas dúvidas pela desinformação de vendedores desinteressados, ou ainda por diversas informações diferentes sobre um único assunto. Os fatores agravantes desses problemas iniciais são a pressa e a impaciência, que tornam impraticável o nosso hobby e afastam potenciais aquaristas.

Logo que elaboramos um layout para nossos tanques, temos a possibilidade de escolher os mais diversos artigos decorativos, os quais nem sempre estão totalmente prontos. É o caso dos troncos, que tendem a causar alteração na cor da água pela tinta marrom ou água cor-de-chá, causada pela liberação de ácidos húmicos ou taninas, que também são responsáveis pela cor de alguns rios amazônicos (Rio Negro, por exemplo).

Aquário com troncos de aroeira

O tingimento da água não é diretamente prejudicial aos peixes e, dependendo do tipo de montagem (como o aquário biótopo asiático acima), este tipo de coloração é até desejada, mas para outras montagens em geral o que se quer é ter a água mais cristalina possível, por questões estéticas e para facilitar a penetração da luz. Em busca de encontrar os melhores meios para tratar os troncos de aroeira, reuni os artigos e dicas mais comuns no mundo do aquarismo, testando todos os métodos com amostras e condições semelhantes.

A Aroeira

São muitas as plantas no Brasil conhecidas com o nome de aroeira. Pelos nomes populares que carregam, deixam transparecer que se tratam de espécies espalhadas pelo país afora. São, assim, a aroeira-da-praia, a aroeira-de-bugre, a aroeira-do-sertão, a aroeira-do-mato, a aroeira-de-capoeira, a aroeira-do-campo, a aroeira-de-goiás, a aroeira-do-amazonas, a aroeira-do-rio-grande, a aroeira-rasteira, a aroeira-mansa , a aroeira-brava, a aroeira-preta, a aroeira-branca e, por fim, a aroeira-vermelha.

Nome popular: aroeira; aroeira-do-sertão.
Nome científico: Schinus terebenthifolius Raddi.

Família botânica: Anacardiaceae
Origem: Várias formações do Brasil.

Segundo o "Dicionário Botânico da USP", é uma árvore de folhas penadas, flores brancas ou amarelo-esverdeadas, em panículas, e drupas globosas, vermelhas, com odor de pimenta; abaraíba, aguaraibá-guaçú, aguaraúba, araíba, aroeira-do-amazonas, aroeira-folha-de-salso, aroeira-salso, aroeiro, corneíba, pimenta-da-américa, pimenta-bastarda, pimenteira-do-peru [Nativa dos Andes peruanos, é explorada ou cultivada pela madeira compactada, pouco elástica, pelas propriedades medicinais da resina da casca e dos folíolos e frutos, os quais também fornecem tintura, respectivamente, amarela e rósea].

São encontradas no estados brasileiros de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Mato-Grosso, Maranhão e Piauí.

Os Tratamentos

Nesta pesquisa foram utilizados troncos de aroeira com aproximadamente 30 cm cada, que foram submetidos aos testes simultaneamente. Cada amostra foi colocada em um recipiente, submetida ao respectivo tratamento descrito abaixo, e retirada do local para ir ao aquário somente após não tingir ou turvar a água dos recipientes. O tempo total que levou cada processo é indicado ao final dele. A água utilizada era retirada diretamente da rede de distribuição (torneira) sem qualquer tratamento anterior.

Atenção: a maior parte dos tratamentos pesquisados foram desenvolvidos por outros aquaristas, muitos companheiros da A Era de Aquários que compartilharam suas experiências conosco. As instruções dos tratamentos pesquisados foram respeitadas rigorosamente, além de uma variação com cloro, sal e água quente que eu já estava estudando há algum tempo. Sendo ainda que a pesquisa tem como finalidade somente verificar a eficácia e o tempo aproximado do tratamento proposto.

  • Tratamento com cloro ativado
    1. O tronco deve ser submerso em recipiente com volume suficiente para cobri-lo totalmente, adicionando durante 7 dias 1 ml de cloro ativo para cada 10 litros d’água;
    2. Troque á água e deixe o tronco descansar por mais sete dias, para que o cloro excesso seja totalmente removido;
    3. Caso seja possível, adicione água quente sobre o tronco, para eliminar agentes resistentes ao cloro.
    Tempo requerido de tratamento: 18 dias
  • Tratamento com sal grosso
    1. O tronco deve ser submerso em recipiente com volume suficiente para cobri-lo, adicionando 4 colheres de chá para cada litro de água;
    2. Completar a água do recipiente para manter o tronco sempre submerso.
    Tempo requerido para deixar de tingir a água: 25 dias
  • Tratamento com imersão em água da rede de distribuição
    1. O tronco deve ser submerso em recipiente com volume suficiente para cobri-lo, com água da rede distribuidora (torneira);
    2. Trocar a água a cada três ou quatro dias.
    Tempo requerido para deixar de tingir a água: 35 dias
  • Tratamento com imersão em água quente
    1. O tronco deve ser submerso em recipiente com volume suficiente para cobri-lo;
    2. Despejar água fervente sobre o tronco e deixar descansar;
    3. Trocar a água a cada três ou quatro dias.
    Tempo requerido para deixar de tingir a água: 28 dias
  • Tratamento com cloro, sal grosso e imersão em água quente
    1. O tronco deve ser submerso em recipiente com volume suficiente para cobri-lo, adicionando 1 litro de cloro para cada 2 litros de água, deixando-o em repouso durante 24 horas;
    2. Colocar o tronco em outro recipiente para que a água possa ser aquecida ao ponto de ebulição (100°C) durante 15 minutos e deixe descansar por 24 horas;
    3. No terceiro dia adicionar 200 g de sal grosso à água a ser fervida, conforme o item 2;
    4. Troque a água diariamente e repita o item 2 até a água se apresentar limpa.
    Tempo requerido para deixar de tingir a água: 7 dias
Conclusão

Os resultados demonstraram que todos os tratamentos são eficazes para que os troncos deixem de pigmentar a água do aquário, cada um com seu tempo e dificuldade própria. Deve-se ressaltar que a água a ser trocada ficará muito marrom e até mesmo os menos experientes saberão a hora correta de parar o tratamento.

É importante inserir todas as plantas, troncos e pedras no momento inicial da montagem, o que deverá influenciar diretamente na qualidade de nossa colônia de bactérias e no equilíbrio d'água. Utilizando qualquer um dos tratamentos de troncos podemos diminuir o tempo de espera para uma montagem sem riscos.

Finalmente, devemos salientar a questão ambiental que está intimamente ligada ao hobby, pois de acordo com IBAMA a aroeira é uma das espécies de nossa flora ameaçadas de extinção e já está classificada como “vulnerável”. Após essa descoberta, acabei doando dois dos troncos utilizados na experiência e acho fundamental divulgarmos a todos a preocupação dos aquaristas quanto ao uso racional e sustentável de qualquer elemento extraído da natureza, valorizando e preservando os que já possuímos.

 

Comentários de Leitores

Como tratar o tronco de aroeira em menos de uma semana:
Tenho uma dica sobre o troco de aroeira, que resolveu minha necessidade de acelerar o processo da montagem do meu aquário. Li muito a respeito de como tratar o tronco antes mesmo de comprá-lo numa loja de aquário, no qual todos os troncos vinham "crus", sem nenhum tratamento. Ao adquirir o tronco, optei pelo tratamento no sal grosso, pois fiquei inseguro em utilizar grande quantidade de cloro no tronco, e depois ter que fazer um novo tratamento no mesmo para livrá-lo do cloro...e o tratamento com água fervida seria impossível por causa do tamanho do tronco, nem mesmo se adquirisse um panelão de cozinha de restaurante.
Bem, iniciei o tratamento lavando e esfregando com uma escova dessas de lavar roupa, e como já imaginava saiu aquela sujeira toda. Depois mergulhei ele inteiramente num recipiente, e deixei por 24 horas, e a água escureceu nesse período. Troquei a água e e adicionei 1 kg de sal grosso (calculei a quantidade no "olhômetro" - rs) e novamente no dia seguinte estava escura a água. Sempre esfregava o dedo no tronco e percebia que saia muita tinta. Pensei comigo...isso levará semanas! Troquei a água novamente, desta vez sem o sal, não demorou muito e estava ela lá...escura novamente. Então observei que se eu esfregasse o dedo na superfície do tronco, sairia tinta dali até eu não ter mais dedo para esfregar. Observei melhor e notei que a casca do tronco desmanchava ao ser esfregado, e era ela que deixava a água escura. Pensei que, se não existe a casca, donde sairá a tal tinta???
Não perdi tempo, peguei uma faca de lâmina e comecei a raspar o tronco e retirar essa camada de casca escura, chegando no caule avermelhado do tronco. raspei-o por inteiro, retirando toda a casca, e após terminado, lavei-o, e mergulhei na água com sal, deixando por mais 24 horas, e para minha surpresa, a água pouco mudou de cor, quase nada mesmo, estava muito limpa. Deixei ali por mais 24 horas, e realmente não alterou a cor. Troquei a água de teimoso por mais uma vez, dessa vez sem o sal, e após 24 horas, a água continuava cristalina e limpa. Se eu tivesse retirado a casca no primeiro dia de tratamento, estaria com o tronco pronto em 3 dias no máximo! O único trabalho é em perder uns 20 minutos raspando-o e talvez uma bolhinha no dedo. Por essa experiência, vi que a culpa da tinta é da bendita casca do tronco. O tronco ficou mais bonito raspado, limpo, com uma cor puxado pro avermelhado e não tive problemas com tintas no meu aquário. Espero que ajude essa dica, pois convenhamos: esperar uma montagem de aquário, por causa de um tratamento que pode levar semanas, é entediante!