Boa parte das pessoas tem dificuldade em criar peixes por falta de informação. Lavar o aquário periodicamente - o que não deve ser feito - e juntar espécies de peixes de diferentes pHs em um mesmo aquário estão entre os erros mais comuns.
Assim como há pessoas que não suportam cidades interioranas, e outras que detestam a barulheira da cidade grande, os peixes também tem certas "intolerâncias", limitadas principalmente pelo pH da água, que é a medição da quantidade de substâncias ácidas (pH abaixo de sete) e alcalinas (pH acima de 7) presentes na água, em uma escala que vai de 0 a 14.Plantas e peixes amazônicos como, por exemplo, acarás e neons, preferem um pH ácido, obtido através da presença de troncos dentro do aquário. Este tipo de aquário, plantado, exige dedicação e é recomendado somente aos aquaristas mais experientes, pois as plantas aquáticas exigem tanta atenção quanto as terrestres, com podas periódicas, adubos e injeção de CO2 na água.
Já os ciclídeos africanos, que são peixes territorialistas e com um colorido semelhante aos peixes marinhos, preferem aquários com rochas calcárias, o que garante um pH alcalino.
Para quem nunca se aventurou no hobby, a recomendação é começar com um aquário "comunitário", como sugere o biólogo e piscicultor Marcelo Lepiane. "Indico este tipo de aquário à todos os iniciantes, pois o pH neutro do aquário comunitário permite a criação de várias espécies e peixes deste tipo de pH são mais tolerantes à alterações na água, como molinésias e platys."
Entre os peixes possíveis de se criar em pH neutro, está o famoso 'peixe dourado', o kinguio, recomendado por William Sugai, também biólogo e diretor de uma das maiores distribuidoras de peixes ornamentais de São Paulo, como a primeira espécie a ser adquirida. "Indico para todo aquarista iniciante que ele monte um aquário para o peixe kinguio (carassius auratus), o popular peixe dourado."
Além de kinguios, "cascudos e corydoras são recomendados pois, normalmente, os iniciantes costumam dar mais alimento do que o necessário, e estes peixes comem as sobras impedindo que a água fique poluída pelo alimento rejeitado pelos gorduchos kinguios", recomenda Sugai.
Montando um aquário
Os dois biólogos recomendam que os iniciantes comecem com um aquário de 50 litros (50cm de comprimento, 30 cm de largura e 35 cm de altura), por esta litragem ser de fácil estabilização e pode abrigar uma quantidade considerável de animais. Quanto maior o aquário, mais fácil é estabilizá-lo e mantê-lo, já que toda uma biologia interna começa a ser criada a partir do momento em que o aquário é cheio de água - por isso a prática de 'lavar o aquário' é errada - e, desta forma, pequenas variações na qualidade da água não interferem neste ecossistema.
Além do vidro do aquário, o novo aquarista também precisará de:
Filtro: esta é a parte mais importante do aquário e escolher o melhor tipo de filtro será um dos fatores determinantes do sucesso de seu aquário. "Recomendo a todos os meus clientes iniciantes a compra de filtros externos, pois estes, além de terem um valor acessível, realizam os três tipos de filtragem necessárias: mecânica, biológica e química," explica Lepiane.
A manutenção dos filtros é bem simples e consiste em lavá-los e trocar mensalmente o sachê de carvão ativado.
Cascalho e Itens de decoração: no caso dos aquários comunitários, escolha cascalho de rio(neutro) e alguns enfeites - que não devem ter pontas e serem próprios para aquários, assim como as plantas artificiais.
Termostato: o mecanismo que mistura termômetro e aquecedor garante que a água do aquário fique na temperatura selecionada e evita consumo desnecessário de energia. Os termostatos existem em várias potências e tamanhos, sendo recomendado um de 50 watts para o aquário em questão.
Tampa e Lâmpadas: os aquários devem ser mantidos longe da luz do sol, pois esta estimula o crescimento de algas, o que deixará os vidros verdes. Utilize somente lâmpadas próprias a aquários, pois estas possuem o espectro correto para não estimular o crescimento de algas, além de valorizar as cores dos peixes.
Medidor de pH, rede e sifão: indispensáveis para a boa manutenção do aquário, testes de pH são encontrados nas lojas de peixes ornamentais e indicam o pH da água. A rede servirá para retirar animais mortos e, principalmente, inserir novos no aquário. Já o sifão, uma mangueira com uma ponta maior que a outra, é utilizado durante as trocas parciais para sugar a sujeira que permanece no substrato.
Decorar o aquário
Com todos os itens em mãos, lave o aquário e o substrato, espalhando o substrato por todo o fundo do aquário em uma camada de aproximadamente 2cm.
- Decore o aquário e encha-o com água filtrada ou água de torneira 'descansada' - encha baldes e deixe ao sol por pelo menos um dia para que o cloro evapore - e deixe o nível de água cerca de 5 cm abaixo da borda.
Inicialmente, a água ficará turva, então ligue o filtro na parte traseira do aquário para eliminar a sujeira restante. Coloque o termostato - que deve ser ligado somente dentro da água para evitar que queime - e mantenha a temperatura em 27 - 29º Celsius.
Deixe o aquário sem peixes de três a sete dias, realizando medições diários do nível de pH e inserindo ou retirando elementos até que ele se estabilize em 7 por, pelo menos, dois dias seguidos; aí sim os peixe poderão ser introduzidos, mas moderadamente, ou o pH desestabilizará novamente e ocasionará a morte dos animais.
Ao adquirir novos peixes, evite os aquários em que haja peixes com pintas brancas (íctio) ou veludos semelhantes a algodão (oodinium), o que é sinal de um ambiente insalubre e, mesmo que o peixe que você queira não apresente sintomas, a água toda daquele aquário está contaminada e seus animais devem ser evitados.
Antes de colocar os novos habitantes dentro do aquário, esvazie metade da água do saco da loja, deixe-o boiando aberto na superfície do aquário para que as temperaturas das águas se igualem e encha-o com um pouco da água do aquário, deixando assim por cerca de 15 minutos. Em seguida, retire os peixes do saco com a ajuda da rede e despreze toda a água do saquinho para evitar contaminação.
Manutenção e cuidados